6 de julho de 2014

Joaçabense relata aventura histórica

Três amigos saíram de Joaçaba em 1971 e percorreram a América em um Ford 1929 até Detroit no Estados Unidos


Lembranças de uma aventura que poucos repetiram
nas mesmas condições. (Foto: Éder Luiz.com.
As demais: Arquivo cedido por Paulo Breda)
Uma grande aventura marcou a vida de três joaçabenses que no distante ano de 1971 cortaram a América Latina em direção aos Estados Unidos em um Ford 1929. Paulo Breda, 19 anos, Oscar Branco, 21 anos, e seu irmão Valter, 20 anos, resolveram encarar o desafio no começo daquele ano, no dia 5 de janeiro, rumo a fábrica da Ford, em Detroit. Os joaçabenses percorreram 16.000 quilômetros, por 13 países, em 45 dias.

Quem detalhou a história ao Portal Éder Luiz.com foi Paulo Breda, 62 anos, que ainda mora em Joaçaba. Ele contou que o sonho começou a se desenhar no natal de 1970, quando os irmãos Branco foram até a casa dele e informaram a seu pai que tinham o desejo de levar Paulo junto com eles. A conversa rendeu a permissão e no dia seguinte todos já estavam em Curitiba fazendo os passaportes. 

No dia 2 de janeiro os amigos saíram de Joaçaba novamente em direção a Curitiba para comprar os pneus que usariam no veículo, mas não encontraram e tiveram então que ir até Porto Alegre para adquirir. Depois foi a hora de sair do país e a primeira tentativa foi pelo Paraguai, mas como o veículo não estava em nome de nenhum deles acabaram barrados, a solução foi ir pela Argentina, onde utilizaram uma carta de apresentação da Ford de Curitiba, que servia como uma espécie de apresentação do trio e explicava os objetivos da viagem. 

A primeira dificuldade foi a comunicação. “Nós três fizemos espanhol na faculdade, mas na hora da prática não ajudou em nada”. Disse Paulo. A outra dificuldade, como já era esperado, foi o Ford, que quando começou a subir a Cordilheira dos Andes, sofreu com os problemas da altitude. “Tivemos dificuldades em subir a Cordilheira, não sabíamos dos problemas que a altitude causava. Mexemos em tudo no carro, tínhamos peças para reposição, mas não adiantava. Para nossa sorte passou um argentino e disse que era normal e para que parássemos de mexer”.

Já na entrada do Chile os amigos pararam para dormir em um hotel, na cidade de La Serena, no início do Deserto do Atacama. “Na cidade fomos a uma revenda da Ford e fomos muito bem recebidos e nosso carro foi consertado. O problema era na bomba d´água. A partir daquele dia, por conta do deserto e do sol forte, resolvemos andar à noite, mas na primeira tentativa andamos 20 quilômetros e o carro começou novamente a dar problema na bomba, que aquecia. Nessa hora o Oscar foi mexer e estourou a ventoinha, furando o capô, por pura sorte ninguém se feriu”. Conta Paulo.

O Ford teve que ser rebocado e a viagem se tornou muito difícil, pois de dia no Atacama o calor era escaldante e à noite muito frio. Além disso, os aventureiros sofriam com a falta de comida. Mas a viagem não parou e com o carro em melhores condições eles passaram pelo Chile, depois Equador e Peru, não sem que um deles sofresse com a altitude, Oscar teve que ficar internado em um hospital por conta das sequelas. 

Já na Colômbia os três tiveram que tomar cuidado ao atravessar o país. “Lá havia problemas de guerrilhas já naquela época e fomos orientados a não ir pelas estradas. Então, embarcamos num navio e viajamos dois dias, passando pelo Canal do Panamá. Entramos pelo Oceano Pacífico e desembarcamos no Atlântico”. Ainda segundo Paulo, como resultado dessa viagem no navio surgiu uma história de amor. “Foi no navio que Oscar conheceu a esposa e ali começou uma relação que durou por toda a vida”.

Na América Central as dificuldades foram às exigências de cada país. “Em cada fronteira era um parto. Em El Salvador não queriam deixar que entrássemos. Fomos obrigados pelos guardas da fronteira a fazer a barba, já que existia uma revolta no país e não soava bem homens barbudos”.
Já no México a situação melhorou e o Ford ganhou um descanso em uma oficina, quanto os amigos alugaram outro veículo e foram ao famoso balneário de Acapulco, onde ficaram dois dias.

Quando chegou a hora de entrar nos Estados Unidos a burocracia mais uma vez foi a maior dificuldade. “Chegamos à divisa do México com o Texas e tivemos dificuldade para entrar. Houve um contato com o cônsul do Brasil e novamente a carta de apresentação da Ford foi importante. Depois de muita burocracia ganhamos um visto de 10 dias, mas tínhamos que atravessar o país para chegar até Detroit, onde estava a fábrica da Ford”.

Os amigos seguiram firmes no propósito e conseguiram chegar até Detroit, mas antes de chegar à fábrica da Ford houve mais um problema. “A engrenagem da marcha quebrou, mas mesmo assim insistimos e chegamos. Para nossa sorte, um dos diretores que veio falar com a gente era casado com uma brasileira. Fomos convidados a jantar na casa de um amigo deles, que era outro brasileiro e fizemos uma bela amizade”.

Já no final da viagem os amigos estavam sem muito dinheiro e contaram com a ajuda dos novos amigos para poder comprar as passagens e voltar ao Brasil, desta vez de forma menos aventureira. O Ford 1929 ficou sob os cuidados dos amigos que moravam nos Estados Unidos. “Anos depois os Oscar foi novamente a América para tentar ver do carro, mas não encontrou mais”. Disse Paulo.

Sobre o resumo da aventura, Paulo conta que foi inesquecível e que da forma como foi feita se tornou histórica. “Foi uma viagem sem preparo algum, ninguém acreditava que iríamos chegar. Quando voltei meu pai disse que me deixou ir por que acreditou que não iríamos longe, mas fomos”. 


Os amigos, anos mais tarde, até cogitaram fazer a viagem novamente e com um veiculo do mesmo modelo. Esse era o maior desejo de Oscar Branco, que infelizmente faleceu sem antes poder realizar. Mesmo assim são poucas as pessoas que podem ter uma história como essa para contar. A aventura é considerada até hoje um feito histórico para o automobilismo mundial.





Fonte: ederluiz.com

Um comentário:

  1. Olá Elias, parabéns pelo Blog e pela belíssimo história destes aventureiros. Meu nome é André Jardim e curtimos carros antigos como esta turma aí. Estivemos em Joaçaba e Treze Tílias em Maio deste ano para visitar uns amigos. Estavmos voltando da nossa aventura ao Uruguai em nossa Chevrolet C-1416 (1965), mais conhecida como Veraneio. Depois nos faça uma visita em nosso Blog (www.expedicaonaestrada.com) e curta a nossa fanpage Facebook/expedicaonaestrada! Um grande abraço e parabéns mais uma vez!

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