1 de agosto de 2013

Conheça a história do casal que comemorou 71 anos de união matrimonial em Herval d’ Oeste

Do amor entre Adelino e Adelaide 
Martini já surgiram quatro gerações


As mãos enrugadas revelam a experiência que carrega nas costas um dos primeiros moradores de Herval d’ Oeste. Membro de uma família composta de 15 irmãos – seis homens e nove mulheres - Adelino Achilles Martini, gaúcho de Bento Gonçalves, saiu em 1924 do Rio Grande do Sul aos dois anos de idade com os pais, Isidoro e a mãe Dozolina Formallioni, ambos imigrantes italianos. O pai tinha 15 anos e mãe 13 quando chegaram ao Brasil. Seu Adelino é o único filho vivo da família Martini. Nascido em 12 de junho de 1922, seu Adelino no auge de seus 91 anos mantém o bom humor e a felicidade estampada em seu rosto, e com memória de fazer inveja a qualquer jovem.

   Casado com Adelaide Giacomin, de 87 anos, seu Adelino conheceu a esposa e futura mãe de seus 12 filhos em Herval d’ Oeste. Quis o destino traçar o mesmo caminho para eles que já dura 71 anos juntos. Dona Adelina, nascida em 22 de março de 1926  também é de Bento Gonçalves. Se conheceram na escola e se casaram em 23 de maio de 1942, ele com 19 anos e ela com 16. Da união nasceram Irene, Alécio, Dines, Nilson, Valdir, Vanilda, Olga, Beto, Odete, Solange, Valdemar e Leocir. Três já são falecidos, Leocir, Valdemar e Nilson. A primeira filha, Irene, nasceu após um ano de casamento. O casal Adelino e Adelaide tem 26 netos e 33 bisnetos, sendo 26 meninos e o restante meninas. Seu Adelino lembra faz os cálculos e lembra que a mulher permaneceu 3.240 dias como gestante.

    Enquanto seu Adelino relatava à reportagem da Rádio Catarinense as principais passagens da vida, a esposa Adelaide – que pela idade avançada apresenta dificuldades visuais e auditivas – se esforçava para tentar ouvir as palavras do marido, ditas num misto de alegria e emoção nostálgica. Dona Adelaide recentemente sofreu uma queda e estava com o braço direito engessado e apoiado em uma tipoia. Sem titubear, seu Adelino revelou o segredo de tanto amor e carinho um pelo outro: “Fizemos uma promessa no altar, que era de ficar juntos até o fim, nas horas boas e nas ruins”.

   A cuidadora de dona Adelaide, Terezinha Veronese, de 60 anos, conhece o casal há muitos anos. Foi ela quem buscou as caixas contendo diversos álbuns de fotografias que seu Adelino apresentou com muita satisfação ao lado do fogão à lenha, saboreando um café passado na hora acompanhado de cuca e bolachas caseiras feitas por uma das filhas, que também estava na casa de esquina da família. Seu Adelino conta que os filhos, a maioria deles moram próximos.

   Como todo bom descendente de italianos e nascido em uma das regiões do Rio Grande do Sul que mais produzem uva, seu Adelino confessa que apreciava um bom vinho, mas teve que parar por estar tomando remédios. “Tem que viver para aquilo que gosta. O que mata são os desgostos e a preocupação”, reitera. Seu Adelino e dona Adelaide fizeram festa de 50 anos de casados que reuniu quatro gerações da família Martini. Quando lembra o passado vivido, seu Adelino não consegue segurar as lágrimas. Ele conta que participava dos “bailinhos” na comunidade.

   Seu Adelino sempre enfrentou as dificuldades do dia a dia com determinação. Trabalhou na roça plantando milho, trigo, feijão, criava porcos e vacas de leite, sendo que o trabalho era todo braçal. A esposa fazia quatro quilômetros para levar o almoço a ele enquanto trabalhava na gruta. Além de carregar a comunidade, dona Adelaide ainda levava os filhos pequenos junto. “Hoje em dia as pessoas não dão mais o devido valor às coisas”, compara. A vida de comerciante teve início quando comprou a lojaem Sede Belémque pertencia a Guilherme Brunetto. O estabelecimento estava com as portas fechadas. Decidiu juntamente com dois sócios, todos parentes, retomar as atividades no local. Porém, após um tempo o negócio não prosperou. Seu Adelino vendeu a parte dele e a maioria das coisas que estavam na loja também foram vendidas. O meio de transporte mais comum e utilizado na época era o cavalo.

   Seu Adelino se orgulha de não ter inimizade com ninguém. Tanto quis fazer o bem a todos e fortalecer o vínculo comunitário que seu Adelino lembra que as terras para construção da gruta de Sede Belém foram doadas pela família dele. Foram os pais de seu Adelino que compraram as terras de Emílio Morais para dar início à instalação da família na comunidade. O pai de seu Adelino foi um dos encarregados pela comunidade para construção da Igreja Menino Jesus, daí o nome da comunidade ser Sede Belém.

   Seu Adelino explica que na época havia dois times de futebol na comunidade, o Olímpico e o Flor da Serra. A divisão entre os moradores era marcante. Vendo que isso estava desunindo os moradores, seu Adelino tratou de reunir os sócios do Clube Recreativo Sede Belém e juntar os times, mantendo somente o Flor da Serra, time que guarda com muito carinho, assim como a bandeira que está em sua casa e que pretende levar junto em seu caixão, conforme deseja, pois a considera o símbolo da união da comunidade. Perguntado sobre a posição que gostava de jogar, seu Adelino de pronto respondeu: “Jogador bom não escolhe posição, joga em qualquer uma”, sorri. Gremista, ele recorda que os árbitros apitavam os jogos a cavalo.

   Adelino Martini serviu ao Exército no ano de1941 no Tiro de Guerra de Joaçaba. Por 20 anos morou na gruta e há 60 anos resideem Sede Belém, interior de Herval. Seu Adelino foi por 20 anos comerciante. A popularidade gerada pelos negócios o fez enveredar para a política, uma das paixões dele assim como o futebol. Foi vereador de1962 a1966, quando o cargo ainda não era remunerado. Seu Adelino lembra que fez 152 votos pela antiga UDN, partido em que militou por 40 anos. À época pertencia à oposição do governo municipal no Legislativo. Seu Adelino estudo até o quarto ano. Atualmente seu Adelino é filiado ao PSD, remanescente do DEM.

   Além dos cadernos de anotações dos principais fatos que marcaram a vida da família, como data de nascimento dos filhos, netos, bisnetos, datas comemorativas, nomes de familiares, entre outros, seu Adelino guarda também o retrato de todos os governadores de Santa Catarina e dos presidentes do Brasil, uma demonstração explícita de que a política sempre correu em seu sangue. Ele comenta que sempre foi simpatizante da família Bornhausen, e cita os ex-governadores Irineu e Jorge Bornhausen. As mais de 150 fotografias levam no verso o nome do político e o ano em que atuou. Seu Adelino sempre foi um líder comunitário.

   Atuou durante 26 anos como “Inspetor de Quarteirão”, cargo que foi extinto no decorrer dos anos. A tarefa incumbida a seu Adelino era levar ao conhecimento do Poder Público os problemas e as necessidades da comunidade, uma espécie de secretário de hojeem dia. Assimcomo o cargo de vereador, a função não era remunerada. A nomeação era feita pelo governador. Seu Adelino recorda que o primeiro prefeito de Herval d’ Oeste foi Antônio Beviláqua. O gosto pela política de seu Adelino foi passada para outras gerações, aos filhos Nilso e Alécio e ao neto Mauro, todos já foram vereadores no município.Em Sede Belémseu Adelino foi presidente do Clube Recreativo Sede Belém. À época o clube passava por dificuldades como divisão interna, número reduzido de sócios e escassez de recursos. Em um trabalho de mobilização seu Adelino lembra que conseguiu reunir 154 sócios na época. Os nomes de todos eles estão registrados em um de seus diversos cadernos.

   Seu Adelino participava até pouco tempo do grupo da Melhor Idade Menino Deus de Sede Belém. Porém, alguns problemas de saúde dele e da esposa o impediram de continuar frequentando os encontros do grupo. Adelino considera que o município de Herval d’ Oeste desenvolveu bastante em um curto espaço de tempo. Ele lembra da época em que a prefeitura contava com apenas quatro funcionários. Lembra também as campanhas políticas eram acirradas. Seu Adelino deixou de votar somente a partir das duas últimas eleições. Até então ele nunca deixou de exercer seu direito de cidadania.


   Seu Adelino é adepto à ideia de que se deve votar na pessoa e não no partido. Ele considera a situação do Estado e do país boas e destaca o tempoem que Joaçabachegou a ter até quatro deputados estaduais, e lamenta que nos dias atuais não tenha nem um representante no parlamento do estado. Adelino Martini sabe de cor e salteado que 34 escrituras de terras passaram pelas mãos dele durante os 91 anos de vida, e que todas elas foram repassadas aos filhos para que tivessem seus “pedaços de chão” para tocar a vida.


Seu Adelino reforça que os cadernos guardados com carinho em casa – no interior dela um quadro pendurado no corredor com as imagens dele, da esposa e dos filhos – são para deixar escrito para as gerações remanescentes o legado de amor à vida e ao próximo. “É para guardar não somente a história da família, mas também de uma parte considerável da história de Herval d’ Oeste”, finaliza.


















Fonte: Rádio Catarinense

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