7 de julho de 2016

Há 100 anos, o fim da sangrenta Guerra do Contestado


Reportagem – Agência Senado 
Adeodato Ramos havia passado boa parte do gelado inverno catarinense de 1916 embrenhado na mata, fugindo de seus perseguidores. Depois de uma noite de geada, o último líder rebelde da Guerra do Contestado estava exausto. Ao sair da mata e sentar-se à beira da estrada para se aquecer ao sol, foi flagrado por uma patrulha. O “temido facínora”, o “sanguinário chefe dos fanáticos”, o “flagelo de Deus”, como o descreviam os jornais da época, entregou-se sem nem sequer esboçar resistência.
A captura dele, na virada de julho para agosto, marcaria o fim da guerra, que se arrastou por quatro anos e transformou a região do Contestado (área disputada por Santa Catarina e Paraná) no palco da revolta mais sangrenta do século 20 no Brasil.
Os rebeldes chegaram a se espalhar por uma área equivalente ao tamanho de Alagoas. Entre 1912 e 1916, eles enfrentaram as forças policiais e militares dos dois estados e do Exército. Os insurgentes eram movidos por motivos que iam do messianismo à luta pela terra. Eram contra o poder público e os coronéis locais. Reagiam ao impacto da construção de uma estrada de ferro, que os expulsou da terra onde viviam.
Estima-se que pelo menos 10 mil pessoas pereceram na região do Contestado, tanto nos combates quanto de fome e de doenças como o tifo, que se alastrou pelas “cidades santas” erguidas pelos revoltosos. Entre os mortos, milhares de mulheres e crianças.

A guerra mobilizou metade do efetivo do Exército: mais de 7 mil soldados, nos momentos de luta mais intensa.


Messianismo
A indefinição dos limites territoriais entre Santa Catarina e Paraná vinha desde o Império, e até a Argentina pleiteava a posse de áreas dos dois estados. O Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa aos catarinenses em 1904 e reafirmou sua decisão nos anos seguintes, mas a sentença era ignorada pelo governo paranaense. Nesse cenário de conflito, a revolta prosperou.
A guerra começou pequena, com um grupo reduzido de sertanejos (moradores desses campos do Sul, chamados de sertão na época) que em 1912 reuniu-se em torno de um curandeiro. José Maria seguia a tradição de outros dois curandeiros que haviam passado por lá anos antes e eram considerados “monges” pelos sertanejos. Ele também fazia profecias: anunciava uma monarquia celestial em que todos viveriam em comunhão, dividindo bens.
Dos seguidores do novo monge, muitos eram posseiros, sitiantes e pequenos lavradores que haviam sido expulsos das terras em que viviam pelo grupo americano responsável pela construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, do megaempresário Percival Farquhar.
Além da concessão, Farquhar ganhou do governo brasileiro as terras situadas às margens da ferrovia, uma vasta faixa de 15 quilômetros de cada lado.
Depois da construção da estrada de ferro, a região, coberta de matas de árvores nobres como a araucária, começou a ser desmatada. O empresário ergueu lá a maior madeireira da América do Sul na época e uma companhia colonizadora que, depois do desmate, venderia as terras a imigrantes europeus. Famílias que viviam no local foram expulsas por milícias armadas da empresa, com apoio das autoridades brasileiras.

Primeira batalha

O monge José Maria e os fiéis se instalaram em Taquaruçu, nos arredores de Curitibanos (SC). Temendo que o grupo fosse usado por inimigos políticos, um poderoso coronel da cidade pediu ao governo catarinense tropas para dispersar um “ajuntamento de fanáticos” que supostamente queria proclamar a Monarquia no Sul do Brasil.
Ao saber que a força policial havia sido chamada, os fiéis fugiram para Irani (SC), localidade que na época estava na área do Contestado.
A chegada do grupo foi vista pelo Paraná como uma investida de Santa Catarina para forçar a posse do território contestado. Em resposta, o Paraná enviou um destacamento policial para expulsar os supostos invasores. Em outubro de 1912, a ação terminou de forma trágica, com 21 mortos. Entre eles, o monge José Maria e o comandante das forças de segurança do Paraná, coronel João Gualberto.
Documentos históricos guardados no Arquivo do Senado mostram a reação dos senadores ao conflito. Dois dias depois da batalha, a morte do comandante foi anunciada no Plenário do Senado, sediado no Palácio Conde dos Arcos, no Rio.
O senador paranaense Generoso Marques falou aos colegas sobre a “horda de bandidos e fanáticos” que havia invadido o Paraná e leu um telegrama enviado pelo governador do Paraná, Carlos Cavalcanti, ao Congresso. O governador comunicava que o estado havia pedido ao presidente da República, Hermes da Fonseca, a intervenção de forças federais.
O senador catarinense Abdon Batista apoiou o colega:
— Esse acontecimento, ao mesmo tempo em que nos cobre de pesado luto, nos anima e nos incita na obrigação de secundar as forças do estado vizinho para que, de uma vez, sejam extirpados os elementos maus que procuram perturbar nossa vida de trabalho e progresso.
Ao longo do conflito, os dois estados trocariam acusações de incentivar os revoltosos e até de  fornecer-lhes armas.

Exército encantado

Depois da morte do monge, os devotos se dispersaram. O messianismo, porém, permaneceu. No ano seguinte, difundiu-se a crença de que José Maria voltaria do céu, acompanhado do “Exército Encantado de São Sebastião”. Uma criança de 11 anos dizia ver o monge em sonhos pedindo aos fiéis que se preparassem para uma guerra santa. O grupo rebelde voltou a se reunir em Taquaruçu.
Agora não eram apenas os antigos seguidores do monge José Maria que se prepararam para a luta. Somaram-se a eles descontentes em geral: mais colonos expulsos, fazendeiros que se opunham aos coronéis, tropeiros sem trabalho, desempregados da obra da ferrovia e até ex-combatentes da Revolução Federalista (1893–1895), que tinham experiência com armas e contestavam a República.
— Num determinado momento, torna-se uma guerra de pobres contra ricos — diz o historiador Paulo Pinheiro Machado, autor do livro Lideranças do Contestado. — Uma guerra daqueles que queriam formar suas comunidades autônomas, onde todos viveriam em comunhão de bens, o que era uma negação da própria ordem republicana, da concentração fundiária, do poder dos coronéis da Guarda Nacional e da força da polícia, do Exército e da companhia norte-americana ferroviária sobre eles.
Machado contesta a visão de que o fanatismo religioso de sertanejos pobres e ignorantes foi o principal combustível da revolta. O pesquisador sustenta que, paralelamente à crença na guerra santa, os rebelados haviam desenvolvido uma nítida consciência de sua marginalização social e política e de que “lutavam contra o governo, que defendia os interesses dos endinheirados, dos coronéis e dos estrangeiros”.

“Novo Canudos”

Na época, porém, a visão predominante na imprensa, refletida no Congresso Nacional, ignorava os problemas que motivaram a insurreição sertaneja. Em setembro de 1914, o senador Abdon Batista desqualificou no Plenário denúncias do deputado federal Maurício de Lacerda, do Rio de Janeiro, que afirmava que a usurpação de terras era a principal causa do conflito:
— É uma lenda. Essa gente não tem terras nessas zonas, o que querem é viver sem trabalhar.
Uma das poucas vozes dissonantes no Congresso, Lacerda disse à imprensa que o Contestado era “um novo Canudos” e defendia os revoltosos, “brasileiros donos de suas terras e que foram usurpados por uma empresa estrangeira”.
— As vítimas, como era natural, defenderam-se. O que se devia esperar? Que o Estado fosse em socorro daqueles homens, mas verificou-se o contrário — declarou aos jornalistas.
O deputado denunciava que dois influentes políticos paranaenses, “protetores da empresa estrangeira que havia se apoderado à força das terras dos sertanejos”, conseguiram que o governo mandasse forças para “defender os ladrões e matar brasileiros que licitamente defendiam suas propriedades”.
Esses políticos eram o senador Alencar Guimarães (que havia governado o Paraná) e o vice-governador Affonso Camargo.
Guimarães defendeu-se no Plenário do Senado.
— Nunca fui homem de negócios, jamais advoguei interesses de qualquer companhia nacional ou estrangeira que colidissem com interesse do Estado.

“Pavor e pena”

Expedições militares tentaram desmobilizar o movimento, atacando Taquaruçu. Depois de várias tentativas, o reduto foi destruído em fevereiro de 1914. A força militar bombardeou a comunidade de longe. Atingiu principalmente mulheres, crianças e idosos, pois a maior parte dos homens havia partido para formar outro reduto, o de Caraguatá.
Foi um massacre. Metralhadoras, canhões e até granadas foram usados no ataque. No livro A Campanha do Contestado, o militar Demerval Peixoto, que participou dos combates como soldado, reproduz o relatório do médico que acompanhou a expedição:
“Pernas, braços, cabeças, casas queimadas… Fazia pavor e pena o espetáculo que se desenhava aos olhos. Pavor motivado pelos destroços humanos; pena das mulheres e crianças que jaziam inertes por todos os cantos”.
A revolta da população contra o massacre só fez fortalecer o movimento, e os sertanejos começaram a expandir suas ações. Milhares de novos adeptos se mudavam para os redutos. Novas “cidades santas” surgiam. A maior delas, Santa Maria (que não tem relação com o município gaúcho homônimo), tinha 25 mil pessoas.
Ao mesmo tempo, o movimento se militarizou, com líderes “de briga” aliados aos religiosos. No inverno de 1914, os sertanejos começaram a saquear fazendas, roubando gado e comida e arregimentando pessoal (até sob ameaça) para reforçar os redutos. Passaram a atacar e ocupar cidades. Nos ataques, estações de trem e repartições públicas eram queimadas.
Com apoio dos governadores de Santa Catarina e Paraná, em 1914 o governo federal decidiu empreender uma grande operação militar para aniquilar a insurreição. Sob o comando do general Setembrino de Carvalho, 6 mil soldados rumaram para o sul do país. Além deles, 2 mil civis (chamados vaqueanos), a maioria integrantes das guardas privadas armadas mantidas pelos coronéis da região, foram contratados para auxiliar o Exército. A ordem do governo era clara: “acabar com os fanáticos”, como contou o próprio general Setembrino em suas memórias.
Quando o cerco aos redutos se apertou, começou a faltar comida, remédios e munição para os rebeldes. Sobreviventes relataram que, no final, comeram até couro de cintos e arreios para não morrer de fome. Para evitar deserções, alguns líderes, como Adeodato, impuseram um regime de terror nos redutos, executando os suspeitos de traição.
O reduto de Santa Maria foi destruído na Páscoa de 1915. Em telegrama a Setembrino, o capitão responsável pelo ataque detalha: “Tomei e arrasei 13 redutos com enormes sacrifícios do meu heroico destacamento. Matamos em combate perto de 600 jagunços, não contando o grande número de feridos. Arrasei perto de 5 mil casas e 10 igrejas”.
Os últimos combates ocorreram em dezembro de 1915, e os rebelados, derrotados, se dispersaram. Houve rendições em massa das famílias sertanejas.
Os vaqueanos começaram então uma caçada aos últimos líderes rebeldes. Muitos deles foram mortos em execuções sumárias, mesmo depois de rendidos. Alguns vaqueanos ganharam fama por retirar sertanejos da cadeia para executá-los.

Acordo de limites

Com a captura de Adeodato Ramos, o último e mais temido líder dos rebelados, a guerra foi encerrada de vez, naquele inverno de 1916. Logo em seguida, em outubro, finalmente veio a assinatura do acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná. Pressionados pelo presidente Wenceslau Braz, cada um dos dois estados teve que ceder um pouco. A partilha, porém, foi vista como favorável aos catarinenses, que ficaram com 28 mil dos
48 mil quilômetros quadrados da área contestada.
Na assinatura do acordo, no Palácio do Catete, no Rio, o governador de Santa Catarina, Felipe Schmidt, comemorou a paz, encerrando um “passado amargo” que fazia os dois estados se olharem com desconfiança, como “dois povos estranhos que aguardassem, de arma em punho, a hora da peleja”.
O governador do Paraná, Affonso Camargo, também exaltou a paz, mas deixou claro o ressentimento com um desfecho que considerava injusto. Ele justificou sua decisão de assinar o acordo mesmo assim citando a necessidade urgente de encerrar uma “luta fratricida sem precedentes”:
— Ali caíram sem vida oficiais do Exército, bravos soldados das forças nacionais e estaduais e milhares de sertanejos, na sua maioria laboriosos, em uma confusão desumana que dolorosamente impressionou todo o país.
Ao citar os sertanejos “em sua maioria laboriosos”, o governador reconhecia que o movimento, hoje visto como uma das maiores revoltas camponesas do Brasil, era mais que uma combinação de fanatismo e banditismo.
Essa consciência se ampliaria a partir dos anos 1970, explica o historiador Paulo Pinheiro Machado. Com a redemocratização do país, criou-se um ambiente favorável para a retomada da memória e dos estudos sobre a Guerra do Contestado.
No Senado, essa releitura histórica ficou patente numa sessão especial realizada em agosto de 2009 para lembrar a guerra. No Plenário, os senadores ressaltaram o caráter de revolta social do movimento, as injustiças cometidas contra a população pobre do Contestado e a ausência do Estado.
“Quando o Estado falta, não cumpre com seu dever, se omite, o resultado é este: as pessoas reagem”, disse o senador Raimundo Colombo, hoje governador de Santa Catarina.
O então senador Flavio Arns, do Paraná, afirmou que o governo desconsiderou uma população pobre para privilegiar empresários e fazendeiros.
Na época da guerra, uma rara visão lúcida do conflito veio justamente de um comandante do Exército, o jovem capitão Mattos Costa. Idealista, ele defendia uma solução pacífica e morreu em combate, em 1914. Ficou registrada em relatos militares sua concepção da guerra:
“A revolta do Contestado é apenas uma insurreição de sertanejos espoliados nas suas terras, nos seus direitos e na sua segurança. A questão do Contestado se desfaz com um pouco de instrução e o suficiente de justiça, como um duplo produto que ela é da violência que revolta e da ignorância que não sabe outro meio de defender o seu direito”.

ÚLTIMO LÍDER DOS REBELDES GANHOU FAMA DE “DEMÔNIO”

A Guerra do Contestado começou com um líder considerado santo — o monge José Maria — e terminou com outro tido como o próprio diabo — Adeodato Ramos. “O demônio está encarcerado”, anunciou em agosto de 1916 o jornal O Imparcial, de Canoinhas (SC), referindo-se à captura de Adeodato, que tinha fama de assassino e era temido pelos próprios companheiros.
O repórter do jornal O Estado, de Florianópolis, porém, se surpreendeu ao entrevistar Adeodato na prisão.
“Nós, que esperávamos ver o semblante perverso de um bandido, cujos traços fisionômicos estivessem a denotar sua filiação entre os degenerados do crime, vimos, pelo contrário, um mancebo em todo o vigor da juventude, de uma compleição física admirável, esbelto, olhos de azeviche [pretos], dentes claros, perfeitos e regulares, e ombros largos”, escreveu, destacando a postura recatada do “célebre bandoleiro”.
O jornal O Dia, de Florianópolis, relatou que ele respondia aos policiais de forma serena e “tinha o olhar suave”.
Adeodato era uma figura controvertida. “É evidente que ele cometeu muitas atrocidades nos redutos, mas não era muito diferente de outros líderes rebeldes”, escreveu o historiador Paulo Pinheiro Machado, ressaltando que houve uma “demonização” do último líder rebelde, alimentada pelos próprios sertanejos.
Conta-se que, no julgamento, após a ouvir a sentença de 30 anos de prisão, o réu declamou no tribunal versos irônicos:
“Para tirar o mal do mundo / Tinha feito uma jura / Ajudei nosso governo / A quem amo por ternura / Acabei com dez mil pobres / Que livrei da escravatura / Liquidei todos os famintos / E os doentes sem mais cura / Quem é pobre neste mundo / Só merece sepultura.”
Adeodato foi morto em 1923, numa suposta tentativa de fuga da prisão.


Fonte: Portal Éder Luiz

22 de fevereiro de 2016

Encontro de Veículos Antigos reúne mais de 200 “relíquias” em Piratuba

O VIII Encontro de Veículos Antigos Termas de Piratuba foi realizado no último final de semana. Entre sexta, sábado e domingo, 230 veículos. Carros, motos, esportivos, caminhões e caminhonetes foram expostos na Rua 13 de Março e no estacionamento da Companhia Hidromineral. A visitação foi gratuita.

Muitos piratubenses e turistas apreciaram os veículos. Várias marcas e modelos de nacionais e importados que marcaram época, foram expostos. “Nosso evento vem crescendo a cada edição e com certeza já se tornou mais um atrativo turístico de Piratuba. Ao longo dos anos estamos recebendo antigomobilistas de várias regiões do país, aumentando o número de participantes e a variedade de carros”, conta o presidente do Veteran Car Club de Concórdia, Ivanir Vedana Júnior. “O sucesso do evento é uma combinação. Temos os carros, os antigomobilistas e Piratuba, que nos recebe sempre muito bem. Os colaboradores, que de alguma forma contribuem com a organização, também fazem parte deste crescimento do encontro”, avalia Vedana.



 
Todos os veículos inscritos foram avaliados e várias categorias foram premiadas. O carro com maior conservação foi uma Variant 2 – 1980 de Concórdia. O veículo com maior originalidade em Piratuba foi o Chevette, ano 1977, também de Concórdia. O grupo de Lages também foi premiado por comparecer no evento com o maior número de veículos. Ao todo, a equipe apresentou 26 carros. O veículo mais antigo presente foi um Ford 1929, de Concórdia. O carro que mais rodou para chegar em Piratuba também foi destacado e recebeu um prêmio. Foi uma Belina 1976, que fez cerca de 500 quilômetros e é de Curitiba, PR. O aposentado Idalino Roso, de 84 anos de idade, de Joaçaba, proprietário de um Ford Phaeton 1929, recebeu o troféu de antigomobilista mais idoso do evento. Este é o segundo ano consecutivo que ele recebe a honraria. E o “Carro do Evento”, considerado destaque pela comissão julgadora, foi um Ford 1929 de Pato Branco, PR.

O evento também faz parte da programação de aniversário de Piratuba, que completou 67 anos de emancipação no dia 18 deste mês. O Encontro é realizado pelo Veteran Car Club de Concórdia em parceria com a Associação de Hotéis de Piratuba, Prefeitura, Companhia Hidromineral e Federação Brasileira de Veículos Antigos.






Fonte: Cristiano Mortari/ Ascom Prefeitura Piratuba

24 de julho de 2015

Um retrato de Joaçaba no ano de 1954

A foto que esta em destaque nesta reportagem, do ano de 1954, mostra uma Joaçaba que muitos não conheceram. Era um tempo em que uma das ruas mais movimentadas do Centro da cidade ainda estava sem pavimentação e na qual, se repararmos bem, crianças brincavam livremente na via e nas calçadas, talvez correndo para jogar uma bola e sonhar com a seleção que disputava a Copa do Mundo daquele ano na Suíça. Aquele, como 2014, não foi um bom ano para o nosso futebol, seriamos eliminados pela Hungria, que na final enfrentou adivinhem quem? A Alemanha. E quem foi a campeã? A Alemanha. É, certas coisas mudam pouco mesmo!

Voltando para a nossa imagem, na “Casas Pernambucanas”, as mercadorias eram expostas quase na calçada. Outra placa visível e da “Livraria – Tipografia – Santa Terezinha”, também sede do Joaçaba Jornal, de propriedade do Seu Raul Pereira, que ainda circula pelo local contando suas histórias para os mais novos. Os prédios que hoje tomam conta da paisagem, eram edificações de no máximo dois andares.

A rua da foto acima e a mesma da imagem que está logo abaixo, a Getúlio Vargas, entre as esquinas da XV de Novembro e Francisco Lindner. A rua ganhou este nome possivelmente nos anos seguintes, já que 1954 foi exatamente o ano da morte do então presidente Getúlio Vargas, que se suicidou em 24 de agosto daquele ano.

É uma recordação de um tempo sem a correria que temos hoje, o stress com o trânsito, mas mesmo assim uma parte da história desta cidade que com o passar dos anos continua sendo acolhedora, bela e hospitaleira.






Fonte: ederluiz.com.vc

15 de julho de 2015

Conselhos de Um Médico com 104 Anos

Como viver uma longa e feliz vida: Ouça os conselhos do Dr. Shigeaki Hinohara.


Dr. Shigeaki Hinohara é nenhum médico comum. Ele é tesouro nacional vivo do Japão! Nascido em 1911, ele tem 104 anos este ano de 2015. Dr. Hinohara é provavelmente médico e educador mais antigo e mais antigo do mundo. 

Quem está melhor qualificado do que este bom médico para nos aconselhar sobre como viver uma vida longa e feliz? Após a Segunda Guerra Mundial, ele teve a visão de estabelecer um hospital de classe mundial e na faculdade, e hoje Hospital Internacional do seu St. Luke (Seiroka Hospital Internacional) Tóquio e Escola de Enfermagem de São Lucas são as principais organizações médicas no Japão. 

Dr. Hinohara é o presidente do conselho de trustee destas duas instituições médicas famosas, e Ele cura os doentes ainda ocupado no hospital e ensino alunos do colégio. Claro, Dr. Hinohara também detém muitas posições responsáveis ​​em muitas organizações importantes. Ele é o Patrono da Ásia Hospice Rede de Cuidados Paliativos do Pacífico ou "APHN". Ele também é o presidente da Life Centre Planejamento em Tóquio. Ele também é o fundador do "Novo Movimento Idoso". Dr. Hinohara já publicou mais de 150 livros, um dos quais é o best-seller "Viver Comprido, Bom vivo", que já vendeu mais de 1,2 milhões de cópias. Missão de vida do Dr. Shigeaki Hinohara é compartilhar os segredos de uma vida longa e feliz. Agora, isso é o que ele aconselha. Devemos ouvir seus conselhos.


Aqui estão as principais sugestões do Dr. Shigeaki Hinohara:

* A energia vem do nosso bem-estar, e não de comer bem ou dormir muito. Todos nós nos lembramos de quando éramos crianças, quando estávamos nos divertindo, muitas vezes esquecíamos de comer ou de dormir. Eu acredito que podemos conservar essa mesma atitude depois de adultos. É melhor não cansar o corpo com tantas regras, como horário para comer e dormir.

* Todas as pessoas que vivem muito, independentemente de nacionalidade, etnia ou gênero, têm uma coisa em comum: não estão acima do peso. No café da manhã, eu bebo café, um copo de leite e um pouco de suco de laranja com uma colher de sopa de azeite de oliva diluído. O azeite de oliva é excelente para as artérias e mantém a pele saudável. O almoço é leite e alguns biscoitos. Ou nada, se eu estiver muito ocupado para comer. Eu nunca sinto fome porque fico muito focado no trabalho. Para o jantar, como verduras, um pouco de peixe e arroz e, duas vezes por semana, 100g de carne magra.

* Sempre planeje. Minha agenda já está lotada até 2014, com palestras e meu trabalho normal no hospital. Em 2016 eu vou me divertir um pouco, pois planejo assistir às Olimpíadas de Tóquio!

* Não existe necessidade de se aposentar. Porém, se houver, deve ser bem depois dos 65 anos. A idade de aposentadoria atual foi fixada em 65 anos há meio século, quando a expectativa de vida no Japão era de 68 anos e havia apenas 125 japoneses com mais de 100 anos. Hoje, no Japão, as mulheres alcançam 86 anos e os homens, 80, e temos 36.000 centenários no país. Dentro de 20 anos, teremos cerca de 50.000 pessoas com mais de 100 anos.

* Compartilhe o que você sabe. Eu dou 150 palestras por ano, algumas para 100 crianças do Ensino Básico, outras 4.500 executivos. Eu normalmente falo durante 60 a 90 minutos em pé, para manter-me forte.

* Quando um médico lhe recomentar certos exames ou cirurgias, pergunte-lhe se ele faria a mesma sugestão ao seu cônjuge ou a um filho seu. Ao contrário do que se pensa, médicos não conseguem curar todo o mundo. Então, por que causar dores desnecessárias com cirurgias? Acredito que música e terapia com animais ajudam bem mais do que muitos colegas meus imaginam.

* Para manter-se saudável, prefira sempre as escadas e carregue você mesmo as suas coisas. Eu subo escadas  de dois em dois degraus para manter meus músculos em forma.



* Minha inspiração é o poema "Abt Vogler", de Robert Browning, que meu pai costumava ler para mim. Ele nos encoraja a fazer grande arte, não garranchos. Diz para tentarmos desenhar um círculo tão grande que não haja como terminá-lo enquanto vivermos. Tudo o que vemos é um arco, o resto está além da vista, mas está lá, na distância.

* A dor é algo misterioso, e divertir-se é a melhor maneira de esquecê-la. Se uma criança tem dor de dente e você começar a brincar com ela, ela imediatamente esquecerá a dor. Os hospitais devem atender às necessidades básicas dos pacientes: todos nós queremos nos divertir. No Hospital São Lucas, temos música, terapia com animais e aulas de arte.

* Não tenha como objetivo acumular coisas materiais. Lembre-se que você não sabe quando será chamado o seu número, e você não pode levar nada junto para o seu próximo destino.

* Hospitais devem ser projetados e estar preparados para grandes desastres, e devem acolher todos os pacientes que baterem às suas portas. O São Lucas foi concebido de forma que possa ser utilizado em todas as áreas. Podemos prestar socorro no porão, nos corredores, e na capela. A maioria das pessoas pensou que eu estava maluco ao preparar o local para catástrofes porém, em 20 de março de 1995, infelizmente, eu provei que estava certo. Foi quando membros do grupo fanático religioso Aum Shinrikyu realizou um ataque terrorista no metrô de Tóquio. Nós recebemos 740 vítimas e, em duas horas, compreendemos que tinham sido intoxicadas com gás Sarin. Lamentavelmente, uma das vítimas não resistiu, mas salvamos 739 vidas.

* A ciência, sozinha, não é capaz de curar e ajudar as pessoas. Ela nos coloca todos juntos, porém, a doença é algo individual. Cada pessoa é única, e as enfermidades estão ligadas aos seus corações. Para conhecer as doenças e poder ajudar as pessoas, necessitamos das artes liberais e visuais, e não apenas das artes médicas.

* A vida é cheia de incidentes. Em 31 de março de 1970, quando tinha 59 anos, embarquei no Yodogo, um voo de Tóquio para Fukuoka. Era uma linda manhã de sol e, quando avistamos o Monte Fuji, o avião foi sequestrado pela facção japonesa da Liga Comunista-Exército Vermelho. Passei os 4 dias seguintes algemado na minha poltrona, sob um calor de 40 graus. Como médico, encarei tudo aquilo como uma experiência e fiquei fascinado ao constatar o quanto o corpo humano fica mais lento durante momentos críticos.

* Encontre um modelo e proponha-se a ultrapassá-lo. Meu pai foi para os Estados Unidos em 1900, para estudar na Duke University, na Carolina do Norte. Ele foi um pioneiro e um dos meus heróis. Mais tarde, encontrei mais guias e, quando não sei o que fazer, eu me pergunto como eles lidariam com o problema.


* É ótimo ter uma vida longa. Até os 60 anos, trabalhamos para nossa família e para alcançar nossos objetivos. Porém, depois, devemos nos esforçar para contribuir para com a sociedade. Desde os meus 65 anos, dedico 18 horas semanais para trabalhos voluntários, e adoro cada minuto desse tempo.

Fonte: http://goodguy.hubpages.com/hub/How-to-live-a-long-and-happy-life

7 de julho de 2015

1983, o Ano da Devastação - Joaçaba e Herval d´Oeste

Foto da época mostra o local onde existia 
ponte Emílio Baumgart, levada pelas águas.

O ano de 1983 jamais sairá da memória de todos os moradores da região Meio-Oeste do Estado. Há 32 anos, no dia 7 de julho daqueles ano, o Rio do Peixe se transformava em um mostro assustador, que com sua fúria provocou destruição em todos os municípios do vale. Desde Caçador, até Capinzal, todas as cidades que se ergueram ao lado das águas tranquilas do rio viram patrimônios serem devastados, numa catástrofe da natureza que até hoje, ainda, não teve precedentes. As fotos reunidas pelo Portal Éder Luiz, enviadas por leitores que infelizmente não conseguimos identificar, mais aos quais agradecemos pela colaboração, dão a noção exata do que foram aqueles dias.

Relatos da época, como o do radialista Ailton Viel, dão uma noção do que se passou no dia 7 de julho de 1983, quando as águas tomaram conta das áreas centrais das cidades de Capinzal e Ouro.


“Às 6 horas da manhã acordei com um telefonema do então prefeito Celso Farina me falando que precisava da ajuda da emissora, pois o rio está subindo rápido e precisava de todos os funcionários da Prefeitura para socorrerem as famílias que moravam na rua Beira Rio”. Ali residiam mais de 100 famílias”.


Estação em Herval d´Oeste. A água virou até os trens.


Viel foi então verificar a situação do rio, que já saía de seu leito. Chovia muito em todas as cidades da região e as águas continuavam a subir. Do município de Ouro, o prefeito da época, Domingos Boff, também conclamou seus funcionários, pois já estavam ocorrendo quedas de barreiras e as águas ameaçavam os veículos e equipamentos da Prefeitura.


O rio Capinzal, que corta o centro da cidade, e desemboca no rio do Peixe, foi sendo represado e suas águas subiam a medida em que subiam as águas do rio do Peixe, invadindo estabelecimentos comerciais e industriais. As estradas da região começaram a apresentar problemas, o trânsito na SC-303 foi interrompido, o centro da cidade de Lacerdópolis estava tomado pelas águas e barreiras haviam caído na rodovia de ligação com Joaçaba. O tráfego de veículos ligando Capinzal e Ouro à região de Joaçaba, foi desviado pelo interior de Ouro.


Avenida Caetano Branco, principal ligação entre
Joaçaba e Luzerna foi tomada pelas águas.


Com a chegada da noite, surgiam rumores de que a ponte Irineu Bornhausen em Capinzal não suportaria a correnteza. A ponte pênsil, pouco abaixo, já tinha sido levada pelas águas. O rio subiu até o início do dia 8. Por volta de meia-noite e meia ele começou a baixar, mas em alguns pontos o nível chegou a quatro metros acima da pavimentação das ruas.


Ao clarear o dia 8 de julho já não chovia mais. Ouro e Capinzal a exemplo das demais cidades do Vale do Rio do Peixe passavam a contabilizar as perdas provocadas pela maior enchente da história. Em Capinzal, 96 residências desaparecerem das margens do rio, 116 famílias ficaram desalojadas. Centenas de outras famílias desabrigadas. Praticamente todo o centro comercial foi tomado pelas águas. Os prejuízos eram incalculáveis.

Leia também:

Vídeo resgata cenas da enchente em Joaçaba e Herval de 1983

Cai um monumento – O fim da ponte Emílio Baumgart

Vídeo resgata história da ponte Emílio Baumgart


Uma perda Histórica

Em Joaçaba e Herval d´Oeste a apreensão também não era pequena. As pessoas se aglomeravam nas ruas próximas ao Rio do Peixe para ver aquele “espetáculo” assustador que a natureza proporcionava. Famílias ribeirinhas corriam contra o tempo, vendo que a chuva não dava tréguas e que a água do rio aumentava seu nível. As rádios locais informavam que na região de Caçador a chuva também não parava, essa era uma informação preocupante. Enquanto chovesse na nascente, mesmo que nos demais municípios parasse, o nível continuaria aumentando.


Em Luzerna a parte baixa e mais próxima do rio já era devastada pela força das águas. As residências ao longo da Avenida Caetano Natal Branco também. A enchente mostrava seu poder assustador arrastando vagões e até mesmo locomotivas na estação de Herval d´Oeste. Mas, a prova de que aquela era mesmo a maior catástrofe que já assolou a região estava ainda por acontecer.


Imagem do Centro de Luzerna.


Joaçaba e Herval d´Oeste se orgulhavam de ter a maior ponte construída sem auxílio de escoramento, fato inédito na história do concreto armado no mundo, a Emílio Baumgart, que levava o nome do engenheiro que a construiu. A ponte possuía o maior vão livre conhecido na época (68,5m) e foi construída por um método revolucionário devido a sua altura em relação ao rio e às suas repetidas cheias.

Mas, nem mesmo o que foi projetado para suportar ás águas, resistiu. Na madrugada do dia 8 de julho, pelos relatos de quem morava perto da ponte, só se ouviu um grande estrondo e foi possível perceber que a estrutura havia sucumbido.


A destruição foi gigantesca e reconstruir era a palavra de ordem. As lições do passado foram compreendidas, mas ainda hoje é possível perceber que alguns abusam da benevolência do rio do Peixe, que no ano passado chegou a assustar bastante, com a maior cheia desde 1983.


Área da antiga Perdigão, hoje BRF, totalmente tomada pelas águas.
Neste momento a ponte Emílio Baumgart já não existia mais.






























 

Fonte: http://www.ederluiz.com.vc