12 de fevereiro de 2019

Documentário feito por joaçabenses é selecionado para ser apresentado em Festival de Cinema no Japão

Memorial à Paz, produzido há 14 anos, conta a história de sobrevivente da explosão atômica em Nagazaki, em 1945.



O documentário produzido em 2005 por alunos egressos da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), de Joaçaba foi selecionado para ser apresentado em um festival de Cinema no Japão - que ocorrerá em Nagasaki no mês de setembro.

Confira no Final da Reportagem o Documentário completo Memorial à Paz!!!

Elaborado por Rodrigo Gomes Leite, Alex Morais e Enio Brambatti, o filme tem como personagem principal Kazumi Ogawa, que foi sobrevivente da explosão atômica em Nagazaki, em 1945. Ele viveu a segunda metade de sua vida no município de Frei Rogério, antigo distrito de Curitibanos (SC), onde se tornou renomado Militante da Paz, com viagens, ações, palestras e homenagens em todo o Brasil e também exterior.


Kazumi faleceu em setembro de 2012 alguns meses após ser homenageado pela Escola de Samba Unidos do Herval, em um enredo que contou a história dos primeiros imigrantes japoneses em Santa Catarina, "Uma história Um memorial. A Unidos canta a Paz Universal".



Rodrigo Gomes Leite, um dos produtores do filme, conta que recebeu a ligação do Japão no mês de dezembro informando sobre a seleção do material pela comissão organizadora. "Fiquei surpreso, um material produzido há 14 anos ainda nos rende essa satisfação. Fui informado que fomos escolhidos entre vários do gênero histórico cultural para apresentar o material no Japão. Serão apenas dois filmes brasileiros deste formato", comemora.




A narrativa retrata a vida de Kazumi e também conta os últimos dias da Segunda Guerra Mundial, até a militância pela paz no Brasil. Na oportunidade foi produzido em razão aos 60 anos da ocorrência da catástrofe.

Um acervo raro de imagens foi reunido, em 20 minutos de vídeo e um relato emocionante da família Ogawa. Kazumi prestou um comovente depoimento, todo em japonês, sobre o momento do bombardeio, sobre o que ocorreu após o ataque e sua chegada no Brasil.


De acordo com Alex Morais, foram oito meses de produção, todo feito com equipamento emprestado. "Não foi um trabalho fácil, quando tínhamos o equipamento a disposição, o que acontecia uma vez ao mês, íamos a Frei Rogério - cerca de 145 km de Joaçaba. A estrada não era asfaltada, e também pegávamos um carro emprestado adaptado à estrada e deixávamos nossos veículos aqui. Para se ter ideia até de Variant fomos fazer as gravações", conta um dos produtores, salientando que de material bruto foram gravadas cerca de 15 horas.



Ele lembra ainda que na época em que a Unidos do Herval usou o enredo sobre o Japão, uma emissora de televisão japonesa esteve em Joaçaba para acompanhar o carnaval e os japoneses participando da folia e, em seguida, levaram à Nagasaki Kazumi Ogawa, para divulgar o documentário e a homenagem carnavalesca em entidades culturais e universidades japonesas.

No filme, os produtores mostram ainda a propriedade de Kazumi – na cidade de Frei Rogério, onde ele construiu um espaço para meditação – um museu, réplica autêntica japonesa que relembra o triste episódio das bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, uma construção imponente no alto de um morro em forma de um pássaro tsuru (pássaro da paz) denominada Memorial à Paz. Foi uma forma encontrada para homenagear os mortos no ataque e o som de um sino acalenta em meditação os imigrantes japoneses que ali residem.


Infelizmente há poucos anos, o museu sofreu um incêndio incontrolável e todo acervo Brasil / Japão foi destruído. Exceto o Sino em Bronze, original da época da Guerra e presenteado pela ONU para a família Ogawa.




Kazumi era adolescente quando perdeu a balsa que o levaria até a escola. Um descuido que lhe garantiu a vida. Em poucos segundos viu a explosão e em seguida percorreu a cidade destruída em busca de amigos e parentes sobreviventes. No Japão, é reconhecido pelos seus esforços e autoridades japonesas já estiveram em solo catarinense conhecendo o lugar e auxiliando na construção e manutenção do Parque da Paz


O documentário Memorial à Paz venceu a quarta edição do Festiva Nacional de Varginha em 2005 e foi exibido em festivais nacionais de cinema em sete estados do país e em universidades japonesas. Em 2018 foi indicado por entidades nipônicas para ser exibido em Festival de Cinema Japonês, indicado na categoria Melhor Filme Sobre o Japão, produzido fora do país de origem. O Festival acontece no segundo semestre de 2019.


O documentário venceu a quarta edição do  Festiva Nacional de Varginha em 2005:








Confira o Documentário Memorial à Paz:


 
Fotos: Divulgação

Fonte: Paula Patussi

A 'árvore da morte', a mais perigosa do mundo segundo o livro dos recordes

Falam que os indígenas usavam a árvore para tortura, amarrando pessoas a seu tronco e deixando-as ali para que sofressem quando chegasse a chuva.

Contam que, além disso, os nativos envenenavam suas flechas com sua seiva.

E que até que foi o motivo da morte do espanhol Juan Ponce de León, o primeiro governador de Porto Rico, que recebeu uma flechada em uma batalha quando tentou conquistar a costa da Florida, em 1521.

É difícil comprovar que esses fatos realmente tenham acontecido, mas o que se diz das propriedades científicas da "árvore da morte" já foi provado.

Ponce de León, na terra que batizou de La Florida e que quis conquistar.



A temida planta cresce em paisagens idílicas e pode alcançar grandes alturas.

Seus galhos às vezes repousam sobre a areia e te convidam a descansar sobre sob sua sombra ou se proteger da chuva ou do sol.

Seus frutos, muitos parecidos com maçãs, são cheirosos, doces e saborosos.

Mas ela tem a duvidosa honra de estar registrada no livro dos recordes, o Guiness Book, como a árvore mais perigosa do mundo.

Alerta: todas as partes da mancenilheira são extremamente venenosas e a interação ou ingestão de qualquer parte desta árvore pode ser letal"


Como seu nome diz
Hippomane mancinella. Esse é seu nome científico.

Segundo o Instituto de Ciências de Alimentos e Agricultura da Flórida, nos Estados Unidos, Hippomane vem das palavras gregas hippo, que significa "cavalo", e mane, que deriva de "mania" ou "loucura".

O filósofo grego Teofrasto (371a.C.-287a.C.) nomeou assim uma planta nativa da Grécia após descobrir que os cavalos ficavam loucos ao comê-la. E o pai da taxonomia moderna, o sueco Carl Linneo, deu o mesmo nome à nociva árvore da América.


Mais precisamente, a que é nativa da América Central e das ilhas do Caribe e cresce da costa da Flórida até a Colômbia - em alguns lugares, sua presença é alertada por cruzes vermelhas e placas.

Ela era uma ameaça para os conquistadores e, hoje, segue amedrontando turistas


Árvore da morte

Esse é um dos seus nomes conhecidos, usado por quem convive com ela. Também é conhecida como Macieira da Areia ou Macieira da praia - mas árvore da morte é o apelido que melhor descreve a realidade.

Sua seiva leitosa contém forbol, um componente químico perigoso. Só de encostar na árvore, sua pele pode ficar horrivelmente queimada.


Refugiar-se debaixo dos seus galhos durante uma chuva tropical também pode ser desastroso, porque até a seiva diluída pode causar uma erupção cutânea grave.

Sombra da árvore pode te convidar para um descanso, mas ficar embaixo dela é perigoso



Queimar essas árvores também é uma má ideia. A fumaça pode cegar temporariamente e causar sérios problemas respiratórios.

Mas, apesar dos efeitos desagradáveis, o contato da pele com esta árvore não é fatal. A ameaça real vem de sua pequena fruta redonda.

Comer este fruto, que parece uma pequena maçã, pode causar vômitos e diarreia tão severos que desidratam o corpo até um ponto em que não há mais cura.

Tanto assim?

A radiologista britânica Nicola Strickland experimentou estes efeitos em 1999 ao passar férias com uma amiga na ilha caribenha de Tobago.

Como boa cientista, ela descreveu o que acontece ao British Medical Journal, para que outros cientistas soubessem o tamanho desta ameaça.


Ela começa contando como, em uma manhã, "encontramos uma dessas idílicas praias desertas... areia branca, palmeiras balançando, o mar turquesa."

Radiologista teve experiência ruim com fruto quando estava em um lugar paradisíaco



Então, viu as frutas verdes que "aparentemente haviam caído de uma árvore grande".

"Mordi a fruta e achei agradavelmente doce. Minha amiga fez o mesmo. Um pouco mais tarde, notamos um gosto estranho e picante na boca, que virou ardência e dor, com uma pressão na garganta."

"Os sintomas pioraram nas duas horas seguintes até que não conseguíamos mais comer alimentos sólidos, pois a dor era insuportável. A sensação era de ter um grande nó obstruindo a garganta."

Por sorte, oito horas mais tarde os sintomas orais começaram a melhorar, mas os gânglios linfáticos ficaram muito sensíveis.

"Nossa experiência provocou um genuíno terror e incredulidade entre os locais. Tal é a reputação do veneno da fruta", diz.

"Uma só mata 20 pessoas"
Histórias do tipo não são novas, é claro.


John Esquemeling, autor de um dos mais importantes livros de consulta sobre pirataria no século 17, "Os corsários da América" (1678), escreveu sobre sua experiência com a árvore "chamada mancenilheira , a árvora da maçã anã", quando esteve na ilha La Española, compartilhada entre o Haiti e a República Dominicana e conhecida por ter abrigado o primeiro assentamento europeu na América no fim do século 15.

Direito de imagemTHINKSTOCK



Fruto parece uma maçã, mas é muito perigoso!

"Um dia, quando estava extremamente atormentado pelos mosquitos e ainda ignorante sobre a natureza desta árvore, cortei um galho para me abanar. Meu rosto inchou e se encheu de bolhas, como se estivesse queimado, e fiquei cego por três dias."

Nicholas Cresswell, cujo diário sobre seus dias nas colônias britânicas na América ficou para história, escreveu sobre a sexta-feira de 16 de setembro de 1774:

"A fruta da mancenilheira tem o aroma e a aparência de uma maçã inglesa, mas é pequena, cresce em árvores grandes, geralmente ao longo da costa. Estão repletas de veneno. Me disseram que uma só é suficiente para matar 20 pessoas."

"A natureza do veneno é tão maligna que uma só gota de chuva ou orvalho que caia da árvore na sua pele imediatamente causará uma bolha. Nem a fruta nem a madeira podem ser usadas, até onde eu sei."

Perigosa, mas útil


Surpreendentemente, talvez, a árvore tem seus usos, segundo o Instituto de Ciências da Agricultura e Alimentos da Flórida.

Direito de imagemJ.B. RAPKINS/SCIENCE PHOTO LIBRARY

A árvore é imponente, mas talvez seja perigosa para quem frequenta a casa

A mancenilheira da praia é usada para fazer móveis desde a época colonial. Acredita-se que sua seiva venenosa se neutraliza quando seca ao sol. Mas manipular a madeira recém-cortada requer muito cuidado.

Os nativos cobriam suas flechas com o veneno quando iram caçar.


E há documentos que mostram que a borracha da casca já foi usada para tratar doenças venéreas e retenção de líquidos na Jamaica, e as frutas secas foram usadas como diuréticos.

Fonte: BBC

20 de setembro de 2016

Empresário joaçabense constrói Porsche Spyder

Das Telas do cinema para as ruas e do sonho para a realidade. Um empresário joaçabense, apaixonado por carros antigos, se dedicou por mais de um ano para construir uma réplica do Porsche Spyder, um carro esportivo alemão muito usado em corridas na década de 50.

Na última sexta-feira (16) a equipe de reportagem da Rádio Catarinense pegou uma carona com o entusiasmo do joaçabense para mostrar a façanha e a materialização do sonho do engenheiro mecânico Ricardo Pichler. Ricardo é administrador da empresa Wieser & Pichler. Ele contou a nossa reportagem que a ideia de construir o Porsche surgiu de um fusca antigo que foi transformado no esportivo. No início do ano passado ele começou pesquisar na internet e encontrou empresas que fabricavam carrocerias em fibra de vidro. Com o fornecedor identificado ele arregaçou literalmente as mangas e começou viabilizar o projeto. A fibra crua foi remodelada e preparada em Joaçaba numa etapa que rendeu muito serviço em se tratando de acabamento e pintura.

A mecânica foi toda de responsabilidade do engenheiro joaçabense. Muitas peças, como a alavanca de 4 câmbio, de freio de mão, tiverem que ser reprojetadas e construídas em Joaçaba. O projeto saiu do papel por hobby e segue as normas do DETRAN o que permitirá a regularização quanto a documentação. “Ele não tem muita utilidade, mais pra fazer um passeio com a família nos finais de semana” comentou Ricardo. Foram investidos no projeto cerca de R$ 30 mil. O Porsche Spyder está pronto e muito breve estará circulando pelas ruas de Joaçaba.

Por Marcelo Santos

Entrevista e fotos: Cristian Souto













Fonte: Rádio Catarinense 

7 de julho de 2016

Há 100 anos, o fim da sangrenta Guerra do Contestado


Reportagem – Agência Senado 
Adeodato Ramos havia passado boa parte do gelado inverno catarinense de 1916 embrenhado na mata, fugindo de seus perseguidores. Depois de uma noite de geada, o último líder rebelde da Guerra do Contestado estava exausto. Ao sair da mata e sentar-se à beira da estrada para se aquecer ao sol, foi flagrado por uma patrulha. O “temido facínora”, o “sanguinário chefe dos fanáticos”, o “flagelo de Deus”, como o descreviam os jornais da época, entregou-se sem nem sequer esboçar resistência.
A captura dele, na virada de julho para agosto, marcaria o fim da guerra, que se arrastou por quatro anos e transformou a região do Contestado (área disputada por Santa Catarina e Paraná) no palco da revolta mais sangrenta do século 20 no Brasil.
Os rebeldes chegaram a se espalhar por uma área equivalente ao tamanho de Alagoas. Entre 1912 e 1916, eles enfrentaram as forças policiais e militares dos dois estados e do Exército. Os insurgentes eram movidos por motivos que iam do messianismo à luta pela terra. Eram contra o poder público e os coronéis locais. Reagiam ao impacto da construção de uma estrada de ferro, que os expulsou da terra onde viviam.
Estima-se que pelo menos 10 mil pessoas pereceram na região do Contestado, tanto nos combates quanto de fome e de doenças como o tifo, que se alastrou pelas “cidades santas” erguidas pelos revoltosos. Entre os mortos, milhares de mulheres e crianças.

A guerra mobilizou metade do efetivo do Exército: mais de 7 mil soldados, nos momentos de luta mais intensa.


Messianismo
A indefinição dos limites territoriais entre Santa Catarina e Paraná vinha desde o Império, e até a Argentina pleiteava a posse de áreas dos dois estados. O Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa aos catarinenses em 1904 e reafirmou sua decisão nos anos seguintes, mas a sentença era ignorada pelo governo paranaense. Nesse cenário de conflito, a revolta prosperou.
A guerra começou pequena, com um grupo reduzido de sertanejos (moradores desses campos do Sul, chamados de sertão na época) que em 1912 reuniu-se em torno de um curandeiro. José Maria seguia a tradição de outros dois curandeiros que haviam passado por lá anos antes e eram considerados “monges” pelos sertanejos. Ele também fazia profecias: anunciava uma monarquia celestial em que todos viveriam em comunhão, dividindo bens.
Dos seguidores do novo monge, muitos eram posseiros, sitiantes e pequenos lavradores que haviam sido expulsos das terras em que viviam pelo grupo americano responsável pela construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, do megaempresário Percival Farquhar.
Além da concessão, Farquhar ganhou do governo brasileiro as terras situadas às margens da ferrovia, uma vasta faixa de 15 quilômetros de cada lado.
Depois da construção da estrada de ferro, a região, coberta de matas de árvores nobres como a araucária, começou a ser desmatada. O empresário ergueu lá a maior madeireira da América do Sul na época e uma companhia colonizadora que, depois do desmate, venderia as terras a imigrantes europeus. Famílias que viviam no local foram expulsas por milícias armadas da empresa, com apoio das autoridades brasileiras.

Primeira batalha

O monge José Maria e os fiéis se instalaram em Taquaruçu, nos arredores de Curitibanos (SC). Temendo que o grupo fosse usado por inimigos políticos, um poderoso coronel da cidade pediu ao governo catarinense tropas para dispersar um “ajuntamento de fanáticos” que supostamente queria proclamar a Monarquia no Sul do Brasil.
Ao saber que a força policial havia sido chamada, os fiéis fugiram para Irani (SC), localidade que na época estava na área do Contestado.
A chegada do grupo foi vista pelo Paraná como uma investida de Santa Catarina para forçar a posse do território contestado. Em resposta, o Paraná enviou um destacamento policial para expulsar os supostos invasores. Em outubro de 1912, a ação terminou de forma trágica, com 21 mortos. Entre eles, o monge José Maria e o comandante das forças de segurança do Paraná, coronel João Gualberto.
Documentos históricos guardados no Arquivo do Senado mostram a reação dos senadores ao conflito. Dois dias depois da batalha, a morte do comandante foi anunciada no Plenário do Senado, sediado no Palácio Conde dos Arcos, no Rio.
O senador paranaense Generoso Marques falou aos colegas sobre a “horda de bandidos e fanáticos” que havia invadido o Paraná e leu um telegrama enviado pelo governador do Paraná, Carlos Cavalcanti, ao Congresso. O governador comunicava que o estado havia pedido ao presidente da República, Hermes da Fonseca, a intervenção de forças federais.
O senador catarinense Abdon Batista apoiou o colega:
— Esse acontecimento, ao mesmo tempo em que nos cobre de pesado luto, nos anima e nos incita na obrigação de secundar as forças do estado vizinho para que, de uma vez, sejam extirpados os elementos maus que procuram perturbar nossa vida de trabalho e progresso.
Ao longo do conflito, os dois estados trocariam acusações de incentivar os revoltosos e até de  fornecer-lhes armas.

Exército encantado

Depois da morte do monge, os devotos se dispersaram. O messianismo, porém, permaneceu. No ano seguinte, difundiu-se a crença de que José Maria voltaria do céu, acompanhado do “Exército Encantado de São Sebastião”. Uma criança de 11 anos dizia ver o monge em sonhos pedindo aos fiéis que se preparassem para uma guerra santa. O grupo rebelde voltou a se reunir em Taquaruçu.
Agora não eram apenas os antigos seguidores do monge José Maria que se prepararam para a luta. Somaram-se a eles descontentes em geral: mais colonos expulsos, fazendeiros que se opunham aos coronéis, tropeiros sem trabalho, desempregados da obra da ferrovia e até ex-combatentes da Revolução Federalista (1893–1895), que tinham experiência com armas e contestavam a República.
— Num determinado momento, torna-se uma guerra de pobres contra ricos — diz o historiador Paulo Pinheiro Machado, autor do livro Lideranças do Contestado. — Uma guerra daqueles que queriam formar suas comunidades autônomas, onde todos viveriam em comunhão de bens, o que era uma negação da própria ordem republicana, da concentração fundiária, do poder dos coronéis da Guarda Nacional e da força da polícia, do Exército e da companhia norte-americana ferroviária sobre eles.
Machado contesta a visão de que o fanatismo religioso de sertanejos pobres e ignorantes foi o principal combustível da revolta. O pesquisador sustenta que, paralelamente à crença na guerra santa, os rebelados haviam desenvolvido uma nítida consciência de sua marginalização social e política e de que “lutavam contra o governo, que defendia os interesses dos endinheirados, dos coronéis e dos estrangeiros”.

“Novo Canudos”

Na época, porém, a visão predominante na imprensa, refletida no Congresso Nacional, ignorava os problemas que motivaram a insurreição sertaneja. Em setembro de 1914, o senador Abdon Batista desqualificou no Plenário denúncias do deputado federal Maurício de Lacerda, do Rio de Janeiro, que afirmava que a usurpação de terras era a principal causa do conflito:
— É uma lenda. Essa gente não tem terras nessas zonas, o que querem é viver sem trabalhar.
Uma das poucas vozes dissonantes no Congresso, Lacerda disse à imprensa que o Contestado era “um novo Canudos” e defendia os revoltosos, “brasileiros donos de suas terras e que foram usurpados por uma empresa estrangeira”.
— As vítimas, como era natural, defenderam-se. O que se devia esperar? Que o Estado fosse em socorro daqueles homens, mas verificou-se o contrário — declarou aos jornalistas.
O deputado denunciava que dois influentes políticos paranaenses, “protetores da empresa estrangeira que havia se apoderado à força das terras dos sertanejos”, conseguiram que o governo mandasse forças para “defender os ladrões e matar brasileiros que licitamente defendiam suas propriedades”.
Esses políticos eram o senador Alencar Guimarães (que havia governado o Paraná) e o vice-governador Affonso Camargo.
Guimarães defendeu-se no Plenário do Senado.
— Nunca fui homem de negócios, jamais advoguei interesses de qualquer companhia nacional ou estrangeira que colidissem com interesse do Estado.

“Pavor e pena”

Expedições militares tentaram desmobilizar o movimento, atacando Taquaruçu. Depois de várias tentativas, o reduto foi destruído em fevereiro de 1914. A força militar bombardeou a comunidade de longe. Atingiu principalmente mulheres, crianças e idosos, pois a maior parte dos homens havia partido para formar outro reduto, o de Caraguatá.
Foi um massacre. Metralhadoras, canhões e até granadas foram usados no ataque. No livro A Campanha do Contestado, o militar Demerval Peixoto, que participou dos combates como soldado, reproduz o relatório do médico que acompanhou a expedição:
“Pernas, braços, cabeças, casas queimadas… Fazia pavor e pena o espetáculo que se desenhava aos olhos. Pavor motivado pelos destroços humanos; pena das mulheres e crianças que jaziam inertes por todos os cantos”.
A revolta da população contra o massacre só fez fortalecer o movimento, e os sertanejos começaram a expandir suas ações. Milhares de novos adeptos se mudavam para os redutos. Novas “cidades santas” surgiam. A maior delas, Santa Maria (que não tem relação com o município gaúcho homônimo), tinha 25 mil pessoas.
Ao mesmo tempo, o movimento se militarizou, com líderes “de briga” aliados aos religiosos. No inverno de 1914, os sertanejos começaram a saquear fazendas, roubando gado e comida e arregimentando pessoal (até sob ameaça) para reforçar os redutos. Passaram a atacar e ocupar cidades. Nos ataques, estações de trem e repartições públicas eram queimadas.
Com apoio dos governadores de Santa Catarina e Paraná, em 1914 o governo federal decidiu empreender uma grande operação militar para aniquilar a insurreição. Sob o comando do general Setembrino de Carvalho, 6 mil soldados rumaram para o sul do país. Além deles, 2 mil civis (chamados vaqueanos), a maioria integrantes das guardas privadas armadas mantidas pelos coronéis da região, foram contratados para auxiliar o Exército. A ordem do governo era clara: “acabar com os fanáticos”, como contou o próprio general Setembrino em suas memórias.
Quando o cerco aos redutos se apertou, começou a faltar comida, remédios e munição para os rebeldes. Sobreviventes relataram que, no final, comeram até couro de cintos e arreios para não morrer de fome. Para evitar deserções, alguns líderes, como Adeodato, impuseram um regime de terror nos redutos, executando os suspeitos de traição.
O reduto de Santa Maria foi destruído na Páscoa de 1915. Em telegrama a Setembrino, o capitão responsável pelo ataque detalha: “Tomei e arrasei 13 redutos com enormes sacrifícios do meu heroico destacamento. Matamos em combate perto de 600 jagunços, não contando o grande número de feridos. Arrasei perto de 5 mil casas e 10 igrejas”.
Os últimos combates ocorreram em dezembro de 1915, e os rebelados, derrotados, se dispersaram. Houve rendições em massa das famílias sertanejas.
Os vaqueanos começaram então uma caçada aos últimos líderes rebeldes. Muitos deles foram mortos em execuções sumárias, mesmo depois de rendidos. Alguns vaqueanos ganharam fama por retirar sertanejos da cadeia para executá-los.

Acordo de limites

Com a captura de Adeodato Ramos, o último e mais temido líder dos rebelados, a guerra foi encerrada de vez, naquele inverno de 1916. Logo em seguida, em outubro, finalmente veio a assinatura do acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná. Pressionados pelo presidente Wenceslau Braz, cada um dos dois estados teve que ceder um pouco. A partilha, porém, foi vista como favorável aos catarinenses, que ficaram com 28 mil dos
48 mil quilômetros quadrados da área contestada.
Na assinatura do acordo, no Palácio do Catete, no Rio, o governador de Santa Catarina, Felipe Schmidt, comemorou a paz, encerrando um “passado amargo” que fazia os dois estados se olharem com desconfiança, como “dois povos estranhos que aguardassem, de arma em punho, a hora da peleja”.
O governador do Paraná, Affonso Camargo, também exaltou a paz, mas deixou claro o ressentimento com um desfecho que considerava injusto. Ele justificou sua decisão de assinar o acordo mesmo assim citando a necessidade urgente de encerrar uma “luta fratricida sem precedentes”:
— Ali caíram sem vida oficiais do Exército, bravos soldados das forças nacionais e estaduais e milhares de sertanejos, na sua maioria laboriosos, em uma confusão desumana que dolorosamente impressionou todo o país.
Ao citar os sertanejos “em sua maioria laboriosos”, o governador reconhecia que o movimento, hoje visto como uma das maiores revoltas camponesas do Brasil, era mais que uma combinação de fanatismo e banditismo.
Essa consciência se ampliaria a partir dos anos 1970, explica o historiador Paulo Pinheiro Machado. Com a redemocratização do país, criou-se um ambiente favorável para a retomada da memória e dos estudos sobre a Guerra do Contestado.
No Senado, essa releitura histórica ficou patente numa sessão especial realizada em agosto de 2009 para lembrar a guerra. No Plenário, os senadores ressaltaram o caráter de revolta social do movimento, as injustiças cometidas contra a população pobre do Contestado e a ausência do Estado.
“Quando o Estado falta, não cumpre com seu dever, se omite, o resultado é este: as pessoas reagem”, disse o senador Raimundo Colombo, hoje governador de Santa Catarina.
O então senador Flavio Arns, do Paraná, afirmou que o governo desconsiderou uma população pobre para privilegiar empresários e fazendeiros.
Na época da guerra, uma rara visão lúcida do conflito veio justamente de um comandante do Exército, o jovem capitão Mattos Costa. Idealista, ele defendia uma solução pacífica e morreu em combate, em 1914. Ficou registrada em relatos militares sua concepção da guerra:
“A revolta do Contestado é apenas uma insurreição de sertanejos espoliados nas suas terras, nos seus direitos e na sua segurança. A questão do Contestado se desfaz com um pouco de instrução e o suficiente de justiça, como um duplo produto que ela é da violência que revolta e da ignorância que não sabe outro meio de defender o seu direito”.

ÚLTIMO LÍDER DOS REBELDES GANHOU FAMA DE “DEMÔNIO”

A Guerra do Contestado começou com um líder considerado santo — o monge José Maria — e terminou com outro tido como o próprio diabo — Adeodato Ramos. “O demônio está encarcerado”, anunciou em agosto de 1916 o jornal O Imparcial, de Canoinhas (SC), referindo-se à captura de Adeodato, que tinha fama de assassino e era temido pelos próprios companheiros.
O repórter do jornal O Estado, de Florianópolis, porém, se surpreendeu ao entrevistar Adeodato na prisão.
“Nós, que esperávamos ver o semblante perverso de um bandido, cujos traços fisionômicos estivessem a denotar sua filiação entre os degenerados do crime, vimos, pelo contrário, um mancebo em todo o vigor da juventude, de uma compleição física admirável, esbelto, olhos de azeviche [pretos], dentes claros, perfeitos e regulares, e ombros largos”, escreveu, destacando a postura recatada do “célebre bandoleiro”.
O jornal O Dia, de Florianópolis, relatou que ele respondia aos policiais de forma serena e “tinha o olhar suave”.
Adeodato era uma figura controvertida. “É evidente que ele cometeu muitas atrocidades nos redutos, mas não era muito diferente de outros líderes rebeldes”, escreveu o historiador Paulo Pinheiro Machado, ressaltando que houve uma “demonização” do último líder rebelde, alimentada pelos próprios sertanejos.
Conta-se que, no julgamento, após a ouvir a sentença de 30 anos de prisão, o réu declamou no tribunal versos irônicos:
“Para tirar o mal do mundo / Tinha feito uma jura / Ajudei nosso governo / A quem amo por ternura / Acabei com dez mil pobres / Que livrei da escravatura / Liquidei todos os famintos / E os doentes sem mais cura / Quem é pobre neste mundo / Só merece sepultura.”
Adeodato foi morto em 1923, numa suposta tentativa de fuga da prisão.


Fonte: Portal Éder Luiz

22 de fevereiro de 2016

Encontro de Veículos Antigos reúne mais de 200 “relíquias” em Piratuba

O VIII Encontro de Veículos Antigos Termas de Piratuba foi realizado no último final de semana. Entre sexta, sábado e domingo, 230 veículos. Carros, motos, esportivos, caminhões e caminhonetes foram expostos na Rua 13 de Março e no estacionamento da Companhia Hidromineral. A visitação foi gratuita.

Muitos piratubenses e turistas apreciaram os veículos. Várias marcas e modelos de nacionais e importados que marcaram época, foram expostos. “Nosso evento vem crescendo a cada edição e com certeza já se tornou mais um atrativo turístico de Piratuba. Ao longo dos anos estamos recebendo antigomobilistas de várias regiões do país, aumentando o número de participantes e a variedade de carros”, conta o presidente do Veteran Car Club de Concórdia, Ivanir Vedana Júnior. “O sucesso do evento é uma combinação. Temos os carros, os antigomobilistas e Piratuba, que nos recebe sempre muito bem. Os colaboradores, que de alguma forma contribuem com a organização, também fazem parte deste crescimento do encontro”, avalia Vedana.



 
Todos os veículos inscritos foram avaliados e várias categorias foram premiadas. O carro com maior conservação foi uma Variant 2 – 1980 de Concórdia. O veículo com maior originalidade em Piratuba foi o Chevette, ano 1977, também de Concórdia. O grupo de Lages também foi premiado por comparecer no evento com o maior número de veículos. Ao todo, a equipe apresentou 26 carros. O veículo mais antigo presente foi um Ford 1929, de Concórdia. O carro que mais rodou para chegar em Piratuba também foi destacado e recebeu um prêmio. Foi uma Belina 1976, que fez cerca de 500 quilômetros e é de Curitiba, PR. O aposentado Idalino Roso, de 84 anos de idade, de Joaçaba, proprietário de um Ford Phaeton 1929, recebeu o troféu de antigomobilista mais idoso do evento. Este é o segundo ano consecutivo que ele recebe a honraria. E o “Carro do Evento”, considerado destaque pela comissão julgadora, foi um Ford 1929 de Pato Branco, PR.

O evento também faz parte da programação de aniversário de Piratuba, que completou 67 anos de emancipação no dia 18 deste mês. O Encontro é realizado pelo Veteran Car Club de Concórdia em parceria com a Associação de Hotéis de Piratuba, Prefeitura, Companhia Hidromineral e Federação Brasileira de Veículos Antigos.






Fonte: Cristiano Mortari/ Ascom Prefeitura Piratuba